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Foto do escritorObserver Pereira

Aloners

Aloners (Honja Saneun Saramdeul), 2021. De Hong Sung-eun


Um filme essencial para apreendermos a lógica da sociedade pós-moderna em suas contradições – um mundo de tecnologia que convive com fantasmas depressivos e reflexivos. A história focaliza o cotidiano solitário e sem alegria de Yu Jina, a atendente de call center misantropa que precisa treinar uma nova funcionária. Jina acabou de perder a mãe e encontra-se em um processo de luto delicado no qual ela nutre suspeitas e relutâncias em relação ao seu pai em um processo de transferência de culpa.


A solidão e o hiper-individualismo são desdobramentos de uma sociedade precarizada (empregos ou subempregos destituídos de sentido) com indivíduos gastando suas vidas em frente às telas. O egoísmo aparece, portanto, como a forma mais sensata de sociabilidade. O acidente ocorrido no apartamento vizinho de Jina (uma pilha de pornografia desabou e matou o rapaz soterrado) evidencia a condição insalubre da grande cidade. Nasce mais um fantasma na cidade, assombrando, antes de tudo, a si mesmo.


Assim, fantasmas rondam à cidade evocando o medo da solidão: vida e morte solitárias. A cidade com sua multidão é o lugar de vazio, aporta-se aí a contradição do mundo pós-moderno. Na visão retangular prevalece o novo recorte da vida: telas de celular e televisão, janela do ônibus e estação do trabalho. Cubículos e bolhas que servem de proteção e afastamento esvaziando todo o sentido de sociabilidade.


A visão de Yu Jina é estreita: não consegue ver nada além dos pequenos retângulos que emolduram sua vida. Seu olhar apreende apenas o que é imediato; assim, a câmera focaliza as imagens pelos retângulos, isto é, sempre uma visão que corta a totalidade, mantendo-se em um nível de egoísmo primário. Esse tipo de enquadramento é literalmente um quadrado, quer dizer, um recorte muito reduzido da realidade que traduzido por uma fotografia em tons acinzentados.

[O recorte retangular da experiência moderna]


Em suma, Aloners traduz para o cinema aquilo que o sociólogo Byung-Chul Han identificou como uma característica das sociedades capitalistas modernas avançadas. As pessoas são cobradas a ter uma positividade mesmo com a desolação do entorno. A autoexpiação liga os vivos e os mortos vinculando Jina ao fumante melancólico. Os fantasmas que esgueiram nas imagens de câmeras ou nos corredores dos prédios de solitários aparecem como uma confirmação enfática de uma crise que é, antes de tudo, existencial.

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